Sonntag, 10. Oktober 2021


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

SILÊNCIOS

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“Há dois silêncios. Um, quando não se diz palavra alguma. O outro, quando se emprega um jacto de linguagem. Este discurso denuncia uma linguagem encerrada sob si. Essa é a sua referência contínua. A fala que ouvimos é uma indicação daquela que não ouvimos. É uma abstenção necessária, uma cortina de fumo violenta, astuta, angustiada ou trocista que mantém o outro no seu lugar. Quando o verdadeiro silêncio cai, ficamos ainda com o eco, mas estamos mais próximos da nudez. Uma forma de encarar a fala é dizer que é um estratagema constante para cobrir a nudez.

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Já ouvimos muitas vezes aquela expressão aborrecida e vulgar, “falha de comunicação"... e ela inseriu-se no meu trabalho de maneira bastante coerente. Eu acredito no contrário. Acho que comunicamos muito bem no nosso silêncio, no não dito, e que o que ocorre é uma evasão contínua, são desesperadas tentativas de retaguarda para nos guardarmos para nós mesmos. Comunicar é demasiado alarmante. Entrar na vida de outra pessoa é muito assustador. Revelar aos outros a pobreza que há dentro de nós é uma possibilidade muito aterradora.”

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— HAROLD PINTER (Londres, 10 de Outubro de 1930 — 24 de Dezembro de 2008), actor, dramaturgo e poeta inglês, Prémio Nobel da Literatura em 2005, no ensaio “Writing for the Theatre — A speech at the National Student Drama Festival in Bristol in 1962”. Excerto que traduzimos.

 

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