Samstag, 7. Juni 2008



Tu envias poesia alheia

caso raro:

não te falta

abunda no menor recesso
a intensidade

da vida própria

R. S.


Re/


Vã comparação
A dos Oceanos Perenes

Face aos charcos pós-pluviais
Que o mais fraco Sol
Evapora

aa

Mittwoch, 4. Juni 2008



botões de madrepérola

volto lá
dois anos depois
às ruas desertas sem ti
aos jardins vazios de ti
à música atonal

danço de braços vazios
nos braços de outro que não tu

não te procuro
nos túneis do metro
o olhar errante não repousa
na múltidão vácua de ti
no teu andar

de entre os odores anósmicos
da cidade não me atrai o teu

deslizo pelo tempo parado
protegida por paredes
de bolha
de sabão
aliviada

porque já te esqueci

03/06/008
Estrela Hall

aa

Dienstag, 3. Juni 2008



Só Se Possuem Eternamente os Amigos de Quem Nos Separamos

O amor de alguém é um presente tão inesperado e tão pouco merecido que devemos espantar-nos que não no-lo retirem mais cedo. Não estou inquieto por aqueles que ainda não conheces, ao encontro de quem vais e que porventura te esperam: aquele que eles vão conhecer será diferente daquele que eu julguei conhecer e creio amar. Não se possui ninguém (mesmo os que pecam não o conseguem) e, sendo a arte a única forma de posse verdadeira, o que importa é recriar um ser e não prendê-lo.


Gherardo, não te enganes sobre as minha lágrimas: vale mais que os que amamos partam quando ainda conseguimos chorá-los. Se ficasses, talvez a tua presença, ao sobrepor-se-lhe, enfraquecesse a imagem que me importa conservar dela. Tal como as tuas vestes não são mais que o invólucro do teu corpo, assim tu também não és mais para mim do que o invólucro de um outro que extraí de ti e que te vai sobreviver. Gherardo, tu és agora mais belo que tu mesmo.


Só se possuem eternamente os amigos de quem nos separamos.


Marguerite Yourcenar, in "Sistina"