Freitag, 26. Oktober 2012

I shall not live in Vain














I shall not live in Vain

If I can stop one Heart from breaking
I shall not live in vain
If I can ease one Life the Aching
Or cool one Pain
Or help one fainting Robin
Unto his Nest again
I shall not live in Vain.

Emily Dickinson

Mittwoch, 17. Oktober 2012

Mirror






















 Mirror

I am silver and exact. I have no preconceptions.
What ever you see I swallow immediately
Just as it is, unmisted by love or dislike.
I am not cruel, only truthful---
The eye of a little god, four-cornered.
Most of the time I meditate on the opposite wall.
It is pink, with speckles. I have looked at it so long
I think it is a part of my heart. But it flickers.
Faces and darkness separate us over and over.
Now I am a lake. A woman bends over me,
Searching my reaches for what she really is.
Then she turns to those liars, the candles or the moon.
I see her back, and reflect it faithfully.
She rewards me with tears and an agitation of hands.
I am important to her. She comes and goes.
Each morning it is her face that replaces the darkness.
In me she has drowned a young girl, and in me an old woman
Rises toward her day after day, like a terrible fish.


Sylvia Plath
in CROSSING THE WATER (Faber and Faber, London, 1971)

Dienstag, 16. Oktober 2012

A PALAVRA TRANSFIGURADA

A PALAVRA TRANSFIGURADA
Como incendiar a página com uma linguagem nua e frágil? Nada se escreve sem terror  perante o inerte e a plenitude de uma linguagem vã. As folhas fatigam-se, envelhecem, e o bolor é o futuro condenado de todos os vocábulos. Como penetrar nos interstícios do invisível e aí buscar a libertação soberana de uma linguagem fulgurante? A criação é uma destruição em que os gritos e os murmúrios de uma insoldável agonia são sufocados na garganta das palavras. Como libertar a palavra da passiva escravidão da morte? O que nos liga é o que nos liberta: a sede de um lugar livre sem o peso da servidão e dos discursos. Se cada palavra é o limitar de um deserto, como incendiar os grãos de areia para construir a cada de fogo que é o poema? Serão as palavras sombras sobre um invisível muro? Os vocábulos imitam as pedras e as estrelas e podem tornar-se a vivacidade feliz de uma festa miniatural. Mais do que as palavras, o que resta é o espaço que resta entre os vocábulos no branco da página. A linguagem é uma página de sinais esquecidos. Depois de todas as imagens, depois da última palavra, permanece o amor frágil de uma imagem suspensa, como que interdita sobre a aresta de um obstáculo. É a imagem que se apaga, que se perde, e no entanto caminha para o desconhecido e ganha o sombrio fulgor da palavra transfigurada.



ANTÓNIO RAMOS ROSA, 
in QUANDO O INEXORÁVEL (1983)

Samstag, 29. September 2012












sussurrando à rosa
alguma coisa em segredo
ela corta a rosa

Kuroda Momoko

in O japão no feminino II, sec Xvii a XX, (assírio e alvim, 2007)
versão portuguesa de Luísa Freire

(imagem: Yuriko Toi)

Donnerstag, 27. September 2012

NOS DIAS TRISTES NÃO SE FALA DE AVES

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nos dias tristes não se fala de aves.
Liga-se aos amigos e eles não estão
e depois pede-se lume na rua
como quem pede um coração
novinho em folha.
 
Nos dias tristes é Inverno
e anda-se ao frio de cigarro na mão
a queimar o vento e diz-se
- bom dia!
às pessoas que passam
depois de já terem passado
e de não termos reparado nisso.
 
Nos dias tristes fala-se sozinho
e há sempre uma ave que pousa
no cimo das coisas
em vez de nos pousar no coração
e não fala connosco.
 
Filipa Leal

Montag, 24. September 2012

Der Radwechsel

 

 

 

 

 

 

 


 

Der Radwechsel

Ich sitze am Straßenhang.
Der Fahrer wechselt das Rad.
Ich bin nicht gern, wo ich herkomme.
Ich bin nicht gern, wo ich hinfahre.
Warum sehe ich den Radwechsel
mit Ungeduld?

Bertolt Brecht



A mudança de roda

Estou sentado na berma da estrada.
O condutor muda a roda.
Não gosto de estar de onde venho.
Não gosto de estar para onde vou.
Porque observo a mudança de roda
com impaciência?

trad.: aa

Der Brunnen

 

 

 

 

 

 

 


 

Der Brunnen

Im verbrannten Hof
Steht noch der Brunnen
Voll Tränen
Wer weinte sie
Wer trinkt seinen Durst leer


Rose Ausländer aus  "Andere Zeichen" (1975)


O poço

No pátio queimado
Encontra-se ainda o poço
Cheio de lágrimas
Quem as chorou
Quem mata a sua sede

trad: aa


Sonntag, 23. September 2012

Allein










Allein
Ich lebe allein
mit dem Lied

Meine Fragen
werden nicht fertig

Der Himmel antwortet
nein
ja

Ich weiß nicht
wo das Ende beginnt
der Anfang endet


(aus: Rose Auslander: Ich höre das Herz des Oleanders. Gedichte 1977-1979, 1984)


Eu vivo só
com a canção

As minhas perguntas
não ficam prontas

O céu responde
não
sim

Eu não sei
onde começa o fim
termina o início

trad.: aa

Abschied








Abschied
Du denkst deinen
strömenden Tag
schwimmst mühsam
durch das Stundenwasser
Die Nacht
denkt dich
von Stern zu Stern
Im Schlafwandelatem
du merkst nicht
dass du Abschied nimmst

(aus: Rose Auslander: Im Aschenregen die Spur deines Namens. Gedichte und Prosa 1976, 1984)



Despedida
Tu pensas o teu
dia corrente
nadas penosamente
através da àgua das horas
A noite
pensa-te
de estrela em estrela
No fôlego sonâmbulo
não reparas
que dizes adeus

trad: aa

Dienstag, 18. September 2012

DA FALA

Flickering Trees, Jeff Koehn

DA FALA

Quando ainda não sabia as palavras possíveis

para passar entre voz e silêncio dos outros,
tal como entre troncos das florestas mudas,
eu falava com as nuvens que vinham
sobre nós a cantar, de trémulas asas,
e aspergiam os aromas de êxtase.


FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO, 

in AS FÁBULAS (Quasi, 2002)

CocoRosie - We Are On Fire


Dá-me a tua mão.























Óleo sobre tela: A Moonlit Lane, de John Atkinson Grimshaw


Dá-me a tua mão.

Deixa que a minha solidão
prolongue mais a tua
- para aqui os dois de mãos dadas
nas noites estreladas,
a ver os fantasmas a dançar na lua.

Dá-me a tua mão, companheira,
até o Abismo da Ternura Derradeira.


José Gomes Ferreira, 

in Poeta Militante I (Dom Quixote, 1999)

Sonntag, 16. September 2012



já bateu à porta 
uma daquelas noites
que me vêm 
desafiar
saber quem é
a mais forte
a mais resistente
de nós
quem chegará 
à margem alva


uma daquelas noites
que não espera
para entrar que 
penetra pesante
e me arrasta 
chocalhadas 
as vísceras
uivam dolentes

aa

Freitag, 7. September 2012

Wirf deine Angst in die Luft













Wirf deine Angst 
in die Luft 

Bald 
ist deine Zeit um 
Bald wächst der Himmel 
unter dem Gras 
fallen deine Träume 
ins Nirgends 

Noch 
duftet die Nelke 
singt die Drossel 
noch darfst du lieben 
Worte verschenken 
noch bist du da 

Sei was du bist 
Gib was du hast.

Rose Ausländer



Lança teu medo
para o ar

Cedo
acaba o teu tempo
Cedo
cresce o céu
debaixo da relva
os teus sonhos caem
para o nenhures

Ainda
cheira o cravo
canta o melro
ainda podes amar
oferecer palavras
ainda estás cá

Sê o que és
Dá o que tens

(trad. aa)

Dienstag, 19. Juni 2012

Do not stand at my grave and weep




















Do not stand at my grave and weep
I am not there. I do not sleep.
I am a thousand winds that blow.
I am the diamond glints on snow.
I am the sunlight on ripened grain.
I am the gentle autumn rain.
When you awaken in the morning's hush
I am the swift uplifting rush
Of quiet birds in circled flight.
I am the soft stars that shine at night.
Do not stand at my grave and cry;
I am not there. I did not die. 
Mary Elizabeth Frye

DIssociação


DIssociação

Aqueles olhos segredando de amor,

aquelas mãos alongando-se de amor,
aquele corpo todo ondulando de amor, e em mim
só um vago desejo de dormir no seu regaço.
E os meus olhos difusos nos seus olhos,
e as minhas mãos
apertando dedo a dedo as suas mãos
e o meu corpo buscando o seu corpo pele a pele.
E em mim
Só um vago desejo de dormir no seu regaço.

Jorge de Sena in “40 Anos de Servidão