O horizonte das palavras |
Sem direcção, sem caminho escrevo esta página que não tem alma dentro. Se conseguir chegar à substância de um muro acenderei a lâmpada de pedra na montanha. E sem apoio penetro nos interstícios fugidios ou enuncio as simples reiterações da terra, as palavras que se tornam calhaus na boca ou nos meus passos. Tentarei construir a consistência num adágio de sílabas silvestres, de ribeiros vibrantes. E na substância entra a mão, o balbucio branco de uma língua espessa, a madeira, as abelhas, um organismo verde aberto sobre o mar, as teclas do verão, as indústrias da água. Eu sou agora o que a linguagem mostra nas suas verdes estratégias, nas suas pontes de música visual: o equilíbrio preenche os buracos com arcos, colinas e com árvores. Um alvor nasceu nas palavras e nos montes. O impronunciável é o horizonte do que é dito. António Ramos Rosa ACORDES, QUETZAL EDITORES, 1990, 2ª EDIÇÃO, P. 81 |
Sonntag, 20. Februar 2011
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