Quando entrei hoje no quarto da D. Guiomar, a sua ausência habitual tinha-se tornado absoluta. O que quer que fosse que mantivesse o seu corpo a respirar, a palpitar, tinha-se esvaído, gasto ao longo de 85 anos de reacções químicas.
Nunca conheci a D. Guiomar. Pela altura em que nos foi trazida, de corpo doente e moribundo, o seu espírito há já muito que tinha partido, presente sómente na memória familiar, inatingível para estranhos.
Tratei as suas feridas, as dores que admiti que tivesse, embora sem o poder saber com qualquer grau de certeza. Há alturas em que acalmamos primordialmente a nossa própria dúvida.
Nunca conheci a D. Guiomar. Pela altura em que nos foi trazida, de corpo doente e moribundo, o seu espírito há já muito que tinha partido, presente sómente na memória familiar, inatingível para estranhos.
Tratei as suas feridas, as dores que admiti que tivesse, embora sem o poder saber com qualquer grau de certeza. Há alturas em que acalmamos primordialmente a nossa própria dúvida.
Nunca senti a D. Guiomar. Paradoxalmente, aqueles que a conheceram e amaram, aqueles em cujo relembrar lhe seria permitido manter-se viva, comunicante, negaram-lhe esse último direito, valorizando o padecimento somático, entregando a estranhos esse resquício de dignidade que é morrer rodeado pelas nossas memórias.
A D. Guiomar extinguiu-se na mais inatingível solidão.
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