Mittwoch, 13. Oktober 2021

Sonntag, 10. Oktober 2021


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

SILÊNCIOS

.

“Há dois silêncios. Um, quando não se diz palavra alguma. O outro, quando se emprega um jacto de linguagem. Este discurso denuncia uma linguagem encerrada sob si. Essa é a sua referência contínua. A fala que ouvimos é uma indicação daquela que não ouvimos. É uma abstenção necessária, uma cortina de fumo violenta, astuta, angustiada ou trocista que mantém o outro no seu lugar. Quando o verdadeiro silêncio cai, ficamos ainda com o eco, mas estamos mais próximos da nudez. Uma forma de encarar a fala é dizer que é um estratagema constante para cobrir a nudez.

.

Já ouvimos muitas vezes aquela expressão aborrecida e vulgar, “falha de comunicação"... e ela inseriu-se no meu trabalho de maneira bastante coerente. Eu acredito no contrário. Acho que comunicamos muito bem no nosso silêncio, no não dito, e que o que ocorre é uma evasão contínua, são desesperadas tentativas de retaguarda para nos guardarmos para nós mesmos. Comunicar é demasiado alarmante. Entrar na vida de outra pessoa é muito assustador. Revelar aos outros a pobreza que há dentro de nós é uma possibilidade muito aterradora.”

.

— HAROLD PINTER (Londres, 10 de Outubro de 1930 — 24 de Dezembro de 2008), actor, dramaturgo e poeta inglês, Prémio Nobel da Literatura em 2005, no ensaio “Writing for the Theatre — A speech at the National Student Drama Festival in Bristol in 1962”. Excerto que traduzimos.

 

Sonntag, 25. Juli 2021

Homem pequenito

 HOMBRE PEQUEÑITO


Hombre pequeñito, hombre pequeñito,
Suelta a tu canario que quiere volar...
Yo soy el canario, hombre pequeñito,
Déjame saltar.

Estuve en tu jaula, hombre pequeñito,
Hombre pequeñito que jaula me das. 
Digo pequeñito porque no me entiendes,
Ni me entenderás.

Tampoco te entiendo, pero mientras tanto
Ábreme la jaula que quiero escapar;
Hombre pequeñito, te amé media hora,
No me pidas más.


Alfonsina Storni




Homem pequeno, homem pequeno,
solta o canário que quer voar...
Eu sou o canário, homem pequeno,
deixa-me saltar.

Estive na jaula, homem pequeno,
homem pequeno que jaula me dás.
Pequeno digo pois não me entendes,
nem me entenderás.

Eu tão pouco te entendo, mas entretanto
abre-me a jaula, que quero escapar;
homem pequeno, amei-te uma hora,
não me peças mais.



(Trad. A.M.)

Dienstag, 29. Juni 2021

 ich, die immer alleinsame

bin wieder allein

obwohl ich auch gestern

schon allein war

bin ich heute alleiner

weil es gestern noch

eine kurze hoffnung gab

und heute die unbiegsame

wahrheit wächst daß

wir nur einbildung waren


Freitag, 23. April 2021

Cantares


III


Isso de mim que anseia despedida
(Para perpetuar o que está sendo)
Não tem nome de amor. Nem é celeste
Ou terreno. Isso de mim é marulhoso
E tenro. Dançarino também. Isso de mim
É novo: Como quem come o que nada contém. 
A impossível oquidão de um ovo.
Como se um tigre
Reversivo,
Veemente de seu avesso
Cantasse mansamente.

Não tem nome de amor. Nem se parece a mim. 
Como pode ser isso? Ser tenro, marulhoso 
Dançarino e novo, ter nome de ninguém
E preferir ausência e desconforto
Para guardar no eterno o coração do outro.



Hilda Hilst

Foto: Marina Patané


Mittwoch, 21. April 2021